A torcida tricolor, ao final da Copa América 2019, se mostrava insegura, sem saber se de fato estava feliz com o retorno dos jogos do São Paulo. Não pra menos, a campanha não agradava: o time ocupava a 9ª colocação do Campeonato Brasileiro, atravessava uma seca de gols (apenas dois tentos nos cinco jogos antes da parada) e desclassificado de forma precoce da Copa do Brasil e da Taça Libertadores.
No entanto, aparentemente os trinta dias sem jogar fizeram bem ao Tricolor, que detém uma das melhores campanhas desde o retorno: saltou para a 5ª posição, 3 pontos a menos do que o Atlético-MG, e 11 pontos separam o São Paulo do líder Santos.
Falar de título ainda é um assunto despistado pelos jogadores e tratado com cautela pela torcida, porém, é inegável que o clube está fazendo as pazes com o torcedor após os três últimos jogos. Um empate com o Palmeiras em casa, goleada frente à Chapecoense e uma vitória emocionante contra o Fluminense no Maracanã trouxeram confiança e melhoraram o ambiente no Morumbi.
Mas o que mudou desde a parada da Copa América?
Listaremos alguns fatores que certamente contribuíram para os resultados positivos.
"Reforços" do poder ofensivo:
Com Rojas e Pablo lesionados, Biro Biro sem condições de jogo e Antony na Seleção Brasileira Sub-20, o São Paulo encerrou a novela com o Fluminense e trouxe Marquinhos Calazans, reforço contestado pela torcida pelo fato do atacante ter 23 anos de idade e nenhum gol como profissional até então. Nas últimas três partidas antes da Copa América, o novo contratado atuou em todas elas e não agradou. Vitor Bueno foi testado nas pontas, não surtiu efeito.
Éverton foi outro acionado, mas nitidamente ainda estava sem ritmo pois voltava de lesão. Seu xará Éverton Felipe entrou contra Avaí e Atlético-MG, não desencantou e continua sem nenhum gol desde que chegou ao time (agosto de 2018). Toró, que teve um bom início de campeonato, não fez boas atuações. Alexandre Pato se sobressaiu e marcou os únicos dois gols dessas três partidas, nos empates com Cruzeiro e Galo.
Após a Copa, Raniel chegou para compor o setor ofensivo, Antony e Pablo já estavam disponíveis para o jogo contra o então líder Palmeiras e Éverton ganhou tempo para se recuperar da lesão. O desafio era furar a melhor defesa do campeonato (apenas dois gols sofridos em nove jogos), bastaram apenas nove minutos para que Pablo se encarregasse disso.
Com Antony de volta e Hernanes mais descansado, o São Paulo criou mais chances de gol do que a torcida estava acostumada a ver, o ataque pelos extremos foi muito utilizado e Weverton teve muito trabalho para que o jogo ficasse apenas no empate. Raniel entrou no lugar de Pablo (novamente contundido) e mostrou ter uma consciência tática e movimentação melhor do que estava sendo visto nos jogos passados por outros jogadores.
A confirmação da evolução ofensiva veio no jogo seguinte, o São Paulo venceu a Chapecoense por 4 a 0, com gols de jogadas criadas, atacantes em sincronia com os extremos e menos gols perdidos. Éverton e Toró voltaram a brilhar, Raniel e Vitor Bueno fizeram seus primeiros gols pelo time e o Tricolor voltaria a fazer mais de quatro gols numa partida seis meses após a última vez (4 a 1 no Paulistão contra o Mirassol).
Na última partida, o São Paulo visitou o Fluminense fiel à uma diretriz de posse de bola e organização tática com marcação firme, o clube de Fernando Diniz visava neutralizar o poder de fogo adversário. De fato, houve dificuldade e os dois gols saíram de bolas paradas, sendo um de longe em um percurso que enganou o goleiro Muriel e um de pênalti, no apagar das luzes.
Com isso, o time que mal balançava as redes, alcançou a marca de 7 gols em 3 jogos, uma media de 2,3 tentos por partida. Houve melhoria na qualidade ofensiva com a chegada de Raniel e os retornos de Antony e Éverton, a torcida mantém ainda mais otimismo quando se lembra que as voltas de Pablo e Rojas estão próximas. Além disso, observa-se que a media atual de finalizações comparada aos três jogos antes da Copa América é superior. Até a pausa, a media era de 11,3 finalizações por jogo, já nos últimos três jogos, a media é de 15,3 (números do portal SofaScore). Aumento de tentativas somado à melhoria técnica trouxe o bom aproveitamento visto recentemente.
Controle do meio de campo:
Cuca parece enfim ter encontrado um triângulo produtivo no meio de campo. Embora ainda esteja fora de sua melhor condição, Hernanes apresentou evolução e foi um dos que mais participaram das construções dos últimos gols, é o mais experiente do elenco e o que possui mais identificação com a torcida, tem excelente visão de jogo e tem sido a melhor opção na armação visto que os outros meias com qualidade de criação ainda não deslancharam, como Vitor Bueno e Igor Gomes.
Luan e Tchê Tchê fazem uma dupla de volantes bem consistente, enquanto o jovem da base se destaca na marcação e no desarme, o outro se apresenta constantemente ao ataque para dar suporte a Hernanes e aos extremos quando necessário. Refletindo em números, temos um aumento na quantidade de desarmes (media de 12,6 por jogo contra 9,6 antes da Copa América) e um pequeno crescimento na media de passes certos: 79% hoje contra 77,6% antes da pausa, o time aproveita melhor a posse de bola e, quando está sem ela, cerca o setor de criação adversário. Hudson e Willian Farias são opções defensivas, Liziero se recupera de contusão e disputará uma vaga no time com Tchê Tchê.
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Números – Meio Campo do São Paulo FC (SofaScore) |
Organização Tática:
Quem consegue se lembrar de uma imagem que chega a agoniar só de ver? uma foto do posicionamento tático do São Paulo no jogo de volta contra o Talleres, neste, o time partiu para o tudo ou nada sem organização alguma para tentar bombardear a meta argentina, entretanto o time mal finalizou nesse jogo, o que prova que o desespero só prejudica. O 4-3-3 tem sido a melhor pedida, visto que o clube dispõe de extremos velozes (Pato, Antony, Toró, Helinho, Éverton) que, quando jogam articulados com o setor de criação, criam chances reais com frequência, o apoio de laterais com características ofensivas (Reinaldo, Igor Vinicius) traz opção de passes e atrai mais homens adversários para os lados do campo, Hernanes e Tchê Tchê, com isso, ganham um pouco mais de liberdade na intermediária.
Defensivamente falando, ter um volante que raramente sobe (tal como Luan), deixa a entrada da área defensiva segura e permite que o segundo volante tenha mais liberdade, não significa que este se isenta da obrigação de marcar, mas aplica a pressão em maior altura. Nas bolas aéreas, Arboleda e Bruno Alves ganham companhia para que o adversário nunca fique em vantagem numérica.
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Exemplo de comportamento ofensivo |
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Exemplo de comportamento defensivo |
Grande fase de Tiago Volpi:
Este fato já era notório na fase ruim, mas merece destaque. Desde que o ídolo Rogério Ceni se aposentou, a torcida nunca esteve tão empolgada com um goleiro como está ocorrendo com o atual titular. Ao todo, são 17 defesas difíceis em 12 rodadas de Campeonato, e, em 5 jogos, o arqueiro não foi vazado. Na votação criada pelo patrocinador Banco Inter para eleger o melhor jogador de julho, Volpi lidera com folga contra os concorrentes Antony, Reinaldo e Everton.
De bem com a torcida:
Mesmo com um semestre bem abaixo do esperado, a torcida tricolor novamente abraçou o time. No jogo contra o Palmeiras, 38.267 torcedores compareceram para matar a saudade, mas a surpresa veio na rodada seguinte: segunda-feira, frio e três meses sem vitória em casa, mesmo assim, mais de 35 mil pessoas foram testemunhar a quebra do jejum de trunfos e trouxeram confiança aos jogadores. Não suficiente, os são- paulinos lotaram todo o espaço dedicado à torcida visitante no Maracanã e empurraram o clube na vitória contra o Fluminense. Para o jogo contra o Santos, dia 10/08, a expectativa é de bom público mais uma vez.
Para melhorar:
Todos os pontos positivos supracitados trouxeram uma renovação no futebol do São Paulo Futebol Clube, isso não significa que não existam pontos que precisam de atenção.
Ambas as laterais não trazem segurança ao torcedor, na direita temos Igor Vinicius, que, embora demonstre muita raça dentro de campo, é expulso com frequência e é vulnerável a ataques adversários mais técnicos, seu reserva Bruno Peres não está nos planos da equipe e Hudson, costumeiramente improvisado no setor, não almeja servir à posição. Do outro lado, apesar de fazer dois gols contra o Fluminense, Reinaldo tem recebido muitas críticas da torcida e da mídia por seu temperamento e falta de técnica, muitas vezes se preocupa mais em brigar do que jogar, além de possui grande dificuldade em acompanhar ataques no seu corredor, ocasionando falhas de marcação. O reserva Léo faz o arroz com feijão, mas não surpreende positivamente em nenhum aspecto.
Haja visto este problema, o São Paulo foi ao mercado e trouxe dois laterais extremamente vitoriosos: Juanfran, que joga por ambos os lados do campo e foi um pilar importantíssimo no esquadrão montado por Simeone no Atletico de Madri, e o outro reforço, ninguém menos que o craque Daniel Alves, titular incontestável da Seleção Brasileira, melhor jogador da Copa América 2019, além de ser o jogador em atividade com mais títulos no mundo. A torcida agora espera que o investimento resolva com essa incógnita, e se os dois contratados jogarem o que apresentaram na Europa, não haverão mais dores de cabeça.
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Daniel Alves e Juanfran, contratados nesse último final de semana (Foto: Reprodução/Lance) |
Não se pode dizer que o setor de criação do São Paulo está perfeito. Hernanes tem qualidade de sobra, no entanto, o time não poderá contar sempre com ele se sua condição física continuar a oscilar. Igor Gomes e Vitor Bueno, quando acionados para a armação deverão chamar mais o jogo para si, observando sempre a movimentação dos atacantes. Não se vê isso normalmente.
Retoma-se a velha crítica ao preparo físico do time, falta mais gás ao segundo tempo do São Paulo, e o fim do dilema de quase todo jogo perder algum jogador em contusão. Atletas importantes como Rojas, Liziero, Pablo e Anderson Martins são reservas imediatos ou até titulares, o time precisa contar com todos o quanto antes.
Em meio a muitos prós e contras, foi possível observar uma evolução no time, resta ao torcedor acreditar que isso será constante e que teremos um final de ano melhor do que esperávamos.
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